segunda-feira, dezembro 07, 2009

Relatório do projeto “diário para conto” por Alexandra Espíndola

No início do mês de outubro, iniciei a aplicação do projeto Diário para conto com alunos de 6ª série. Inicialmente, conversamos sobre o gênero com o intuito de verificar o que eles já sabiam sobre diário. Depois desconstruímos a ideia de que diário é “coisa de menina”, lembrando que muitos homens importantes da história e da literatura também escreviam em diários. Em seguida, propus a eles trabalharmos o projeto, e, imediatamente, aceitaram. Já no outro dia estavam com um diário em mãos, alguns meninos com cadernos encapados e enfeitados.
Antes de começarem a escrever em seus diários, lemos alguns que consegui na internet e percebemos as diferenças entre um diário íntimo e o virtual (blog). Gostaram de ler o que outros adolescentes escrevem, e, acredito, isso serviu de estímulo para eles. Em seguida, pedi que criassem um nome para seu diário e uma apresentação, na primeira folha, onde dariam uma advertência para um possível leitor ou “intruso”, visto que diário íntimo não é produzido para outras pessoas lerem. Escreveram até coisas engraçadas, como: “não leia meu diário, seu abelhudo!”. No primeiro dia de produção, lemos antes outros diários da internet. Discutimos as marcas do gênero, os temas e a linguagem empregada. Nas semanas de escrita do diário, sempre iniciamos a aula lendo um texto ou assistindo a alguma coisa relacionada com esse trabalho, como o filme Escritores da liberdade.
O que achei mais interessante é que muitos alunos quiseram que eu lesse o que estavam escrevendo no diário, talvez para compartilhar suas angústias, como um menino que escreveu sobre sua mãe, que está há dias no hospital por causa de uma fratura na perna, e ele está sentindo muito a falta dela. Outro ponto interessante é que eu, para quebrar definitivamente com a ideias de que diário é coisa para menina, disse a eles que poderiam escrever sobre a rodada do Brasileirão (assuntos “de meninos”), mas alguns meninos me perguntaram se podiam escrever sobre sentimentos e em forma de poesia.
Levaram seus diários para casa e que escreveram sempre que tiveram vontade, inclusive nos finais de semana.
Os alunos gostaram muito do filme Escritores da liberdade, especialmente porque a professora Gruwell estimulou seus alunos a escreverem suas próprias histórias em diários e conseguiu transformar a difícil vida daqueles adolescentes, que estavam envolvidos com gangues. Durante o filme, paramos muitas vezes o DVD, debatemos temas importantes, e os alunos fizeram várias anotações em seus diários. Relataram que gostaram da história do filme porque trata da “realidade” daqueles jovens. Alguns alunos ficaram curiosos com a história de Anne Frank e leram trechos do diário dela na internet.
Durante ainda esse processo, caracterizamos outro gênero: o conto, que, para eles, foi bastante tranquilo porque lemos vários neste ano e estudamos os elementos da narrativa. Pedi que voltassem aos seus diários e de lá tirassem uma história que julgassem ser interessante transformar em um conto. Eles poderiam narrar em 3ª pessoa e inventar nomes para os personagens para não serem identificados, mas a maioria preferiu a 1ª pessoa e não se importou com a exposição.Esse trabalho resultou na produção de um livro de contos, pois, dessa maneira, os alunos, além de escrevem sabendo que terão leitores diversos, sentem seus trabalhos valorizados. Acompanhei o trabalho de escritura e revisão, mas a correção final foi feita por mim, respeitando, obviamente, a linguagem, a estilística dos autores