segunda-feira, julho 20, 2009

Reflexões acerca do GESTAR II por Joice Porto

Que o ensino da língua não vai bem já é, cada vez mais, uma certeza que vem sendo discutida tanto pela crítica quanto pela sociedade em geral. Embora não se possa generalizá-la, o fato é que a escola ao abordar o ensino da língua, ainda persiste em trabalhar com práticas inadequadas, irrelevantes e descontextualizadas, ou seja, a escola não estimula a formação de alunos capazes de ler, compreender, analisar, pesquisar, refletir e produzir, por escrito ou oralmente, diferentes gêneros e tipos de textos para atender as diferentes finalidades e intenções, como é proposto nos planos curriculares (PCN).
Deste modo, a tarefa do professor na maioria das vezes se concentra em aulas de gramática, de leituras de textos fragmentados sem objetivos e de produções de “redações”, que se reduz simplesmente ao ato de escrever, isto é, a produção escrita é vista como uma “receita[1]”, onde o aluno tem que escrever sobre um tema determinado pelo professor (seu único leitor) com a finalidade apenas de “ganhar nota”, num processo difícil e árduo. Isto acaba desmotivando o aluno e tornando as aulas de português cada vez mais chatas e intolerantes.
Com essa constatação de que a educação não vai bem e precisa de mudanças emergenciais e significativas, muitas são as propostas que buscam melhorar, fortalecer e fazer da aula de português um encontro, “no qual se possa descobrir os mistérios e fascínio da grande e histórica interação possibilitada pela linguagem humana”(ANTUNES, 2003) .
Para haver uma mudança não vejo outra saída senão vontade, determinação e empenho do professor de querer mudar, isto é, a mudança tem que acontecer no íntimo do professor, que ainda tem uma enorme dificuldade em reconhecer que ele é o principal agente transformador no processo educacional.
Segundo Antunes (2003, p. 14), o perfil ideal do professor tem que ser “o de contribuir significativamente para que os alunos ampliem sua competência no uso oral e escrito da língua portuguesa”. Isto supõe, não só do professor, mas das políticas públicas:
“ (...) uma ação ampla, fundamentada, planejada, sistemática e participada (...), para que se possa chegar a uma escola que cumpra, de fato, seu papel social de capacitação das pessoas para o exercício cada vez mais pleno e consciente de sua cidadania.” (ANTUNES, 2003, p. 33)

Nesta concepção, a formação continuada de professores dos anos/séries finais do ensino fundamental, do Programa Gestão da Aprendizagem Escolar (Gestar II), nos traz o desafio de estimular o desenvolvimento pessoal, social e político do aluno, através de um estudo gradativo e contextualizado da língua, privilegiando também reflexões acerca de diferentes gêneros textuais que os alunos tem acesso no seu dia-a-dia e gêneros que não fazem parte do seu cotidiano, como por exemplo, textos literários de Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, etc.
Contudo, o Gestar II não se destina a apresentar cadernos com “receitas” que devem ser empregadas em sala de aula com os alunos, e muito menos, com novas tarefas a serem realizadas de forma mecânica. Ao contrário, o programa tem o objetivo de apresentar uma série de princípios teóricos e práticos, capazes de nos ajudar na ampla e complexa atividade do ensino da língua, que deve ser complementada com estudo, crítica, reflexão, planejamento, adaptações e pesquisa do material. Uma vez que também, na minha opinião, apresenta problemas: textos fragmentados e pouco explorados.
O que me deixa mais contente é perceber que a mudança já começou, pois já está se concretizando (timidamente, é claro) a intenção dos professores de querer adotar uma nova postura pedagógica realmente capaz de oferecer resultados mais positivos e gratificantes. Ler, discutir, refletir, pesquisar, para identificar os problemas e encontrar saídas, como o Programa Gestar II propõe, já é uma “ação”, já é um enorme passo para o processo de mudança.
E nesta primeira fase de estudos e reflexões, podemos observar que a mudança sugerida no Gestar e ao longo de nossos encontros está dando muito certo. As atividades de produção escrita, leitura, interpretação e oralidade estão deixando de ser atividades dolorosas ou de torturas para se tornarem prazerosas e proveitosas.
A seguir, apresento uma série de relatos e sequências didáticas feitas a partir de estudos, análise, adaptações e reflexões, ao longo de nossos encontros semanais, e alguns exemplares de atividades desenvolvidas pelos alunos.
[1] Receita porque o processo de aquisição da escrita ignora a interferência decisiva do sujeito aprendiz na construção e na testagem de suas idéias.