quinta-feira, agosto 20, 2009

Literatura para adolescentes por Alexandra Espíndola - GESTAR II - TP6

Atividade do Programa de Formação Continuada Gestar II

Objetivo geral: enfatizar a importância da literatura, envolvendo os alunos de 6ª série com textos literários.

Objetivos específicos:
- conhecer o que os alunos gostam e o que não gostam de ler;
- produzir um texto – Memória literária;
- colher informações para planejar outras aulas que envolvam textos literários com as informações trazidas pelos alunos;
- conhecer o gosto literário de cada aluno;
- fazer atividades de interpretação de textos;
- produzir um texto narrativo.

1º passo: conversação: para entrar no assunto dessa aula, o professor começará com esta pergunta para os alunos: o que e porque vocês (não) leem? Aqui o professor estimulará a argumentação, pois os alunos geralmente limitam-se a dizer “gosto” ou “não gosto”. É interessante explicar que o gosto não é nato e individual como acredita o senso comum; pelo contrário, é construído coletivamente de acordo com a época e a vivência. Lembrar da necessidade que temos de ficção para falar sobre literatura.
2º passo: produção: aproveitando essa conversação, o professor pedirá uma Memória literária, ou seja, os alunos relatarão suas experiências com textos literários que mais lhes foram marcantes. É importante que os alunos escrevam não só títulos de textos, enredos ou nomes de autores, mas o que sentiram, o que esses textos despertaram neles. Socializar esses textos possibilita uma outra conversação, pois um aluno pode ter lido o texto que o outro leu e apresentar suas impressões também.
3º passo: leitura: levar para a turma um trecho do livro De repente dá certo, de Ruth Rocha (proposto no caderno do Gestar II, TP6, pp. 184,185). Esse texto traz um enredo bastante familiar para os alunos: a mãe com um namorado novo e os conflitos com os filhos. Esse texto deve ser lido pelo professor, para envolver os alunos com uma leitura teatralizada. Em seguida, levar outro texto, intitulado Perdida no tempo, de Esmeral Ortiz (IBID., pp. 198,199), que relata a vida difícil de uma adolescente envolvida com substâncias tóxicas.
4º passo: conversação: hora de mais uma conversa: os alunos discutirão, naturalmente, o enredo dos dois textos, apontando o texto que mais gostaram e argumentando o por que da escolha.
5º passo: desafio: responder a essas questões:
Sobre o primeiro texto:
1) Quais as principais características da narradora-personagem?
2) Indique a progressão na animosidade de Beatriz com as visitas, especialmente com Pedro.
3) Como você justificaria o tom coloquial da narrativa?
4) As longas frases, incluindo falas e pensamentos das personagens, sugerem a você uma forma peculiar da menina de contar os fatos, ou você preferiria a maneira convencional de apresentar o discurso direto, com mudança de parágrafos e uma pontuação específica?
5) Você pode bem imaginar o final dessa história, não é? Qual será, na sua opinião?
6) Que elementos, na forma de narrar, sugerem um final sem grandes dramas?
7) O que esse enredo tem a ver com o universo adolescente?
Sobre o segundo texto:
1) O relato da narradora-personagem parece muito verdadeiro.
a) Em que sentido, no entanto, podemos perceber um mundo irreal onde ela se movia?
b) Em que passagem talvez possamos perceber um dado ligado à fantasia?
2) Segundo o relato da autora, um grande problema enfrentado por ela foi o da baixa auto-estima. Como isso se evidenciava?
3) O sentido da solidão gerava comportamentos indesejáveis. Quais eram?
4) O triste relato tem um fechamento que é de esperança. Que imagem a narradora cria, para criar esse significado?
5) Você acha que esse trecho pode interessar à sua turma? Por quê?

6º passo: depois das atividades, estudaremos estas três músicas: duas de Chico Buarque (O meu guri e pivete) e uma da Facção Central (Desculpa mãe). A partir delas, podemos levantar polêmicas e debater os assuntos, relacionando com os dois textos anteriores.
O Meu Guri
Chico Buarque

Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar
Como fui
sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levarE na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!Ai o meu guri, olha aí!Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Prá me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!É o meu guri e ele chega!
Chega no morro
Com carregamentoPulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!
Olha aí!Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!É o meu guri e ele chega!
Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!Ai o meu guri, olha aíOlha aí!E o meu guri!...(3x)

Pivete
Chico Buarque

No sinal fechado
Ele vende chiclete
Capricha na flanela
E se chama Pelé
Pinta na janela
Batalha algum trocado
Aponta um canivete
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Sobe o Borel
Meio se maloca
Agita numa boca
Descola uma mutuca
E um papel
Sonha aquela mina, olerê
Prancha, parafina, olará
Dorme gente fina
Acorda pinel
Zanza na sarjeta
Fatura uma besteira
E tem as pernas tortas
E se chama Mané
Arromba uma porta
Faz ligação direta
Engata uma primeira
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Na contramão
Dança pára-lamaJá era pára-choque
Agora ele se chama
Emersão
Sobe no passeio, olerê
Pega no Recreio, olará
Não se liga em freio
Nem direção
No sinal fechado
Ele transa chiclete
E se chama pivete
E pinta na janela
Capricha na flanela
Descola uma bereta
Batalha na sarjeta
E tem as pernas tortas



Desculpa Mãe
Facção Central

Mãe, não dei valor pro teu sonho, sua luta
Diploma na minha mão, sorriso, formatura
Não fui seu orgulho, diretor de empresa
Virei o ladrão com a faca que mata com frieza
Não mereci sua lágrima no rosto
Quando chorava vendo a panela sem almoço
Vendo a lage cheia de goteira
Ou a fruta podre que era obrigada a catar na feira
Enquanto você ajuntava aposentadoria esmola pra não ter despesa
Eu tava no bar jogando bilhar
Bebendo conhaque
Bêbado eu era o ladrão de traca a escopeta
Com a mãe implorando comida na porta da igreja
Todo natal você sozinha eu na balada
Bancando vinho, farinha pras mina da quebrada
Desculpa mãe pela dor de me ver fumando pedra
Pela glock na gaveta pelo gambé pulando a janela
(2x)(desculpa mãe) por te impedir de sorrir(desculpa mãe) por tantas noites em claro triste sem dormir(desculpa mãe) pra te pedir perdão infelizmente é tarde(desculpa mãe) só restou a lágrima e a dor da saudade
Quantas vezes no presídio me visitou
No domingo, bolacha, cigarro nunca faltou
Vinha de madrugada, sacola pesada
Pra ser revistada pelos porcos na entrada
Rebelião, você no portão, temendo minha morte
Sendo pisoteada pelos cavalos do choque
Eu prometi que dessa vez tomava jeito
Tô regenerado, ouvi seus conselhos
Uma semana depois, eu na cocaína
Cala a boca velha, sai da minha vida
Eu vou cheirar, roubar, sequestrar
Não atravessa meu caminho, se não vou te matar
Sai pra enquadrar o mercado da esquina
Troquei com o segurança, tomei um na barriga
A Polícia me perseguindo, eu quase pra morrer
Só tua porta se abriu pra eu me esconder
(2x)(desculpa mãe) por te impedir de sorrir(desculpa mãe) por tantas noites em claro triste sem dormir(desculpa mãe) pra te pedir perdão infelizmente é tarde(desculpa mãe) só restou a lágrima e a dor da saudade
Os gambé vigiando o pronto-socorro
Eu na cama delirando, quase morto
Ferimento ardendo, coçando, infeccionado
A solução foi o farmacêutico do bairro
Que só veio por você, com certeza
A heroína que pediu esmola no busão, com a receita
Deu comida na boca, comprou todos remédios
Sonhou com emprego mas o diabo me quis descarregando ferro
Ai eu dei soco, chute, bati com tanto ódio"- Preciso fumar, vai, mãe, dá o relógio"Velha, doente, desafiando a madrugada
De porta em porta: "- Alguém viu meu filho, tô preocupada"Fim de semana foi farinha, curtição
Só cheguei hoje e de prêmio te trombei nesse caixão
Um vizinho ligou, que foi ataque cardíaco
Morreu na rua atrás da merda do seu filho
(2x)(desculpa mãe) por te impedir de sorrir(desculpa mãe) por tantas noite em claro triste sem dormir(desculpa mãe) pra te pedir perdão infelizmente é tarde(desculpa mãe) só restou a lágrima e a dor da saudade

7º passo: produção final: antes de finalizar as aulas desta sequência didática, o professor pedirá aos alunos que escrevam uma narrativa em 3ª pessoa com o tema: o que o adolescente (não) gosta de ler. É importante que o professor acompanhe essa produção e oriente individualmente cada aluno, auxiliando-o nos aspectos estruturais, semânticos e gramaticais. Essas produções poderão ser lidas para a turma com o intuito de, além de socializar os textos, ouvir a opinião da turma quanto à narrativa. Com as informações sobre o gosto estético dos alunos quanto à literatura, o professor tem como melhor planejar as próximas aulas com textos literários.