quinta-feira, agosto 20, 2009

Dom Casmurro: a arte como reflexão por Alexandra Espíndola

Essa sequência didática é a continuação de um trabalho que já vem sendo desenvolvido desde o bimestre passado, em que os alunos da 8ª série, da Escola Básica Municipal Antonieta Silveira de Souza, estão estudando a literatura de Machado de Assis.
Na primeira etapa, trabalhamos com o conto A Cartomante[1]; nesta, teremos por objeto Dom Casmurro.
Que os alunos, em geral, não gostam de ler é sabido. Nosso desafio é fazer com que a leitura não tenha uma carga negativa para os estudantes, que se desestimulam diante de texto não interessante para eles. Por isso, uma maneira de fazer com que a leitura não seja uma tarefa de aborrecimento é levantar debates e aguçar a curiosidade antes de partir para o texto.

1º passo: levei para a turma a música Veja bem meu bem – (composição de Marcelo Camelo, interpretação de Maria Rita) desta maneira:
Veja bem meu bem / Sinto te informar Que arranjei alguém / Pra me confortar Este alguém está / Quando você sai e Eu só posso crer / pois sem ter você Nestes braços tais. Veja bem amor / Onde está você Somos no papel / Mas não no viver Viajar sem mim / Me deixar assim... Tive que arranjar / Alguém pra passar Os dias ruins. / Enquanto isso, navegando eu vou / Sem paz Sem ter um porto / Quase morto, sem um cais E eu nunca vou te esquecer, amor Mas a solidão deixa o coração Neste leva-e-traz. Veja bem além / destes fatos vis. Saiba: traições / São bem mais sutis Se eu te troquei / Não foi por maldade
Amor veja bem / Arranjei alguém
Antes de passar a letra completa, pois está faltando o último verso, identificamos o tema da música e discutimos o que pode ser considerado traição, se houve ou não traição desse texto, como o eu-lírico justifica por que traiu, os versos que contradizem a suposta traição etc. Por ser um assunto polêmico, os alunos se manifestam com veemência. Depois da discussão carregada de ideias divergentes, escrevo no quadro o último verso da música: chamado saudade. Essas palavras desconsertam tudo o que foi dito até então pelos alunos, e, neste momento, aproveito para começar a falar sobre Dom Casmurro, cujo tema também gira em torno de “traição”.
Para reconhecer as personagens, este material é entregue para os alunos:

2º passo: como são alunos de 8ª série, não exijo que leiam todo o livro. Para conhecerem o enredo, levo para a sala um CD de áudio com uma narração do romance, uma adaptação livre de José Geraldo Pequeno. Durante a narração, vamos anotando as principais informações e discutindo as questões mais relevantes. Em momentos decisivos, paro o CD e deixo para a próxima aula. Já chegamos até aqui com esse trabalho. Como os alunos ficam muito curiosos, na próxima aula, além do CD, levarei o livro para eles lerem o capítulo que saciará esta curiosidade. Farei assim em mais ou menos cinco partes. O final da narração do CD só será ouvida depois que os alunos lerem os últimos capítulos do livro.
3º passo: voltaremos a discutir o tema traição. Os alunos se dividirão em dois grandes grupos, um composto por aqueles que acreditam na traição de Capitu e outro que inocenta esta personagem. Neste momento, o poder de argumentação será estimulado pelo professor, cujo papel será de mediador. Os alunos precisarão de pelo menos duas aulas para preparar o debate, pois as evidências da traição e da não traição deverão partir do livro, de trechos que ajudem a “comprovar” as asserções.
4º passo: anotadas no caderno suas impressões de Dom Casmurro, os alunos assistiram ao filme brasileiro Dom – (roteiro e direção de Moacyr Góes).
5º passo: os alunos analisarão a releitura de Moacyr Góes e retomarão as discussões, comparando a música, o livro e o filme.
6º passo: como atividade, os alunos se dividirão novamente em dois grupos. Capitu será colocada no banco dos réus. Duas equipes serão formadas com o objetivo de uma acusar a personagem e outra defendê-la. Nesta atividade, os alunos poderão argumentar com elementos da música, da narração em áudio, do livro e do filme. Mais uma vez o professor mediará com o intuito de estimular a persuasão dos alunos. É importante que o professor, nesta atividade, lembre os alunos que a linguagem precisará ser formal, pois não mais se trata mais de um debate entre colegas, mas sim de uma situação jurídica.
7º passo: trabalho escrito: cada aluno escreverá uma análise literária, tendo como base tudo o que estudaram até aqui, inclusive o que viram no bimestre anterior, como a biografia de Machado de Assis, o contexto histórico do final do século XIX e as características do realismo brasileiro.
8º passo: trabalho oral: os alunos formarão pequenos grupos, unirão suas análises, selecionarão as partes mais significativas e apresentarão para a turma em forma de seminário, que pode ser acompanhado de teatro, música, filme etc.
[1] Sequência didática disponível em http://gcpalhoca.blogspot.com.